segunda-feira, 23 de abril de 2012


Pra dizer a verdade
nem percebi direito quando entrou.
Era antigo convidado
a deitar conversa no portão
até que, sem que eu me desse conta
foi botando chapéu baixo do braço e
entre uma conversa e a vida
foi vindo
Quando vi
já tinha puxado cadeira
e se instalado de vez dentro de mim

No começo, gostei
que de há muito
os cômodos andavam vazios
e me apressei em passar café e espanar poeira
botei até vaso em flor
No começo eu bem gostei...

Mas aí
foi invadindo tudo, e logo
eu não sabia mais onde me achar as coisas
logo
perdi a liberdade em
e não podia mais nem andar pelada dentro de mim
Comecei a fazer cara de desagrado
-fez que não viu
Dei indireta na mesa posta pra um
- danou-se no assovio
Chegou hora em que resolvi botar mesmo pra fora
aos gritos
-Vai sair pela porta da frente
Que foi por onde se me entrou
Não sai.

Às vezes, parece que foi embora
e abro as janelas de par em par pra fazer correr vento
Às vezes até impressa, mesmo, que se foi para sempre
Mas aí, abro um poema e lhe salta a sombra
ponho um disco e ouço sua voz cantando junto o refrão

Não mora mais em mim.

Mas aparece quando menos espero

Agora, não me vou mais a lugar nenhum sozinha
não me freqüento mais os cantos escuros
com medo de o encontrar
(exceto no silêncio frio de algumas madrugadas
quando somente a  sua sombra
me faz sala e companhia à solidão)

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