"Quase morri de frio
por amor a quem não existia
Quase me perdi
a correr atrás de sombras
(pelo que não é
trouxe lágrimas ao reino)
Se hoje guardo luto
é pela morte de alguém
que existiu tão somente para mim
(pela mentira que foste
franzo meu cenho e
calo meu sorriso)
Mas assim que a chuva
lave as águas que chorei
porei minha alma
a quarar no sol
e hei de esquecer
que nunca, nesta vida
eu te conheci"
terça-feira, 25 de outubro de 2005
sexta-feira, 21 de outubro de 2005
quarta-feira, 5 de outubro de 2005
O Menino que Carregava Água na Peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos Manoel de Barros |
domingo, 7 de agosto de 2005
sábado, 6 de agosto de 2005
sexta-feira, 15 de julho de 2005
Versinho pra quem tem medo de Amar
sábado, 9 de julho de 2005
sexta-feira, 8 de julho de 2005
domingo, 12 de junho de 2005
“ No dia em que você me deixou
meu olhar de revés marejou
coração de céu claro
morava no peito
e aquele dia aluou
E de tanto buscar
voz alta em mim dizia
m`arrebatou
maré esconsa, neblinei
e a delicadeza
no amanhecer tormentou
Delicadeza
neblinei, neblinei
marejou
E no jardim que a gente plantou
minha flor mal-me-quis, estancou
terreno só, desfolhado
e o pranto chorado
meu broto regou
E de tanto acabrunhar
mundo todo dizia
desatinou
peito às tontas, neblinei
e a delicadeza
no anoitecer tormentou
Delicadeza
neblinei, neblinei
marejou
Mas no dia em que você voltou
semente se abriu, deu em flor
e o girassol florado
da terra tombado
pro céu se voltou
e de tanto esperar
riso solto corria
e o sol voltou
Pro seu recanto, clarejei
e a delicadeza
até que enfim descansou
Delicadeza
sublimei, sublimei
clarejou"
quarta-feira, 25 de maio de 2005
terça-feira, 24 de maio de 2005
AINDA QUE MAL PERGUNTE
(Fernando Pessoa)
Ainda que mal te pergunte,
Ainda que mal respondas;
Ainda que mal te entenda,
Ainda que mal repitas;
Ainda que mal insistas,
Ainda que mal desculpes;
Ainda que mal me exprima,
Ainda que mal me julgues;
Ainda que mal me mostre,
Ainda que mal te encare,
Ainda que mal te furtes;
Ainda que mal te siga,
Ainda que mal te voltes;
Ainda que mal te ame,
Ainda que mal o saibas;
Ainda que mal te agarre,
Ainda que mal te mates;
Ainda assim, pergunto: Me amas?
E me queimando em teu peito
Me salvo e me dano...
...de Amor!!!
(Fernando Pessoa)
Ainda que mal te pergunte,
Ainda que mal respondas;
Ainda que mal te entenda,
Ainda que mal repitas;
Ainda que mal insistas,
Ainda que mal desculpes;
Ainda que mal me exprima,
Ainda que mal me julgues;
Ainda que mal me mostre,
Ainda que mal te encare,
Ainda que mal te furtes;
Ainda que mal te siga,
Ainda que mal te voltes;
Ainda que mal te ame,
Ainda que mal o saibas;
Ainda que mal te agarre,
Ainda que mal te mates;
Ainda assim, pergunto: Me amas?
E me queimando em teu peito
Me salvo e me dano...
...de Amor!!!
quinta-feira, 19 de maio de 2005
sexta-feira, 13 de maio de 2005
POEMAS DO CáRCERE
( Da Negação do Amor)
“Maldigo o dia
a hora em que te conheci
Maldigo as vozes e os versos
que te trouxeram a mim
Renego todas as tardes
em que estiveste ao meu lado
Todos os olhares em arabescos
com que te desenhei
Rejeito todos os risos
e todos os riscos
Rejeito este amor que tenho
sem nunca tê-lo tido
Desminto agora
a poesia que há em ti
Rasuro todas as letras
com que um dia te rimei
De hora em diante
Nego-te
todas as minhas estrofes!
Repudio a vertigem da tua presença
e esconjuro a ausência
do teu corpo no meu
Desprezo o descompasso
de minhas veias
no cingir dos olhos teus
Menosprezo-lhe o figmento
o fingimento
as amarras
as farsas
as máscaras
E sobretudo
abjuro
o todo de ti
que se fez tão covarde em mim.”
( Da Negação do Amor)
“Maldigo o dia
a hora em que te conheci
Maldigo as vozes e os versos
que te trouxeram a mim
Renego todas as tardes
em que estiveste ao meu lado
Todos os olhares em arabescos
com que te desenhei
Rejeito todos os risos
e todos os riscos
Rejeito este amor que tenho
sem nunca tê-lo tido
Desminto agora
a poesia que há em ti
Rasuro todas as letras
com que um dia te rimei
De hora em diante
Nego-te
todas as minhas estrofes!
Repudio a vertigem da tua presença
e esconjuro a ausência
do teu corpo no meu
Desprezo o descompasso
de minhas veias
no cingir dos olhos teus
Menosprezo-lhe o figmento
o fingimento
as amarras
as farsas
as máscaras
E sobretudo
abjuro
o todo de ti
que se fez tão covarde em mim.”
quinta-feira, 5 de maio de 2005
terça-feira, 19 de abril de 2005
POEMAS DO CÁRCERE
(Do amor reconhecido)
Eu sou aquela que vela
a ausência do teu corpo dormente
aquela que se fizera erva
e se quisera hera
a crescer nos teus quintais
Sou aquela que se perdera
no calor da espera
e do não ter
em que te tenho tido
tua última quimera
se me faz presente
tão logo em mim se encerra
Sou aquela que é noite
e na noite que inverna
Sou aquela que soletra
o teu Amor num vão
(Do amor reconhecido)
Eu sou aquela que vela
a ausência do teu corpo dormente
aquela que se fizera erva
e se quisera hera
a crescer nos teus quintais
Sou aquela que se perdera
no calor da espera
e do não ter
em que te tenho tido
tua última quimera
se me faz presente
tão logo em mim se encerra
Sou aquela que é noite
e na noite que inverna
Sou aquela que soletra
o teu Amor num vão
quarta-feira, 13 de abril de 2005
sexta-feira, 8 de abril de 2005
quarta-feira, 6 de abril de 2005
sexta-feira, 1 de abril de 2005
quinta-feira, 31 de março de 2005
Dêem uma olhada aqui Cinco Contra Um.
Blog novo, coletivo (adoro blogs coletivos), muito bom.
Tem texto meu também como convidada da semana.
Blog novo, coletivo (adoro blogs coletivos), muito bom.
Tem texto meu também como convidada da semana.
quarta-feira, 30 de março de 2005
terça-feira, 22 de março de 2005
Para Márcia Maia
"Entre o querer
e o poder
quantos sonhos perdidos
à espera de nós dois
Entre a sombra tua
e a boca minha
que pulsar errante
de desejo intenso
Quanta terra pedra estrada
entre a rotina tua
e o meu querer a mim
E conquanto seja Amor
seja livre no entanto
para partir e vir
o teu em mim
aos braços meus"
"Entre o querer
e o poder
quantos sonhos perdidos
à espera de nós dois
Entre a sombra tua
e a boca minha
que pulsar errante
de desejo intenso
Quanta terra pedra estrada
entre a rotina tua
e o meu querer a mim
E conquanto seja Amor
seja livre no entanto
para partir e vir
o teu em mim
aos braços meus"
domingo, 20 de março de 2005
quarta-feira, 16 de março de 2005
terça-feira, 15 de março de 2005
segunda-feira, 14 de março de 2005
quinta-feira, 10 de março de 2005
segunda-feira, 7 de março de 2005
O PESCADOR DE ESTRELAS
Sentado à beira da Lua
pescas estrelas
enqüanto germino entre os astros
o meu canteiro de sonhos
E na grandeza
deste mundo insuspeitado
tu pousas sobre mim
o teu olhar descansado
corisco abrilhantado
no proscênio do céu
que convidaste desde então
a morar dentro de mim
Alumbrada
piso nuvens pandas
Âmbar
que abranda o meu caminhar
E pelas vidraças da bem-aventurança
cintila por ti
- Bálsamo e benção
o véu de constelação
que hoje cobre os olhos meus
Sentado à beira da Lua
pescas estrelas
enqüanto germino entre os astros
o meu canteiro de sonhos
E na grandeza
deste mundo insuspeitado
tu pousas sobre mim
o teu olhar descansado
corisco abrilhantado
no proscênio do céu
que convidaste desde então
a morar dentro de mim
Alumbrada
piso nuvens pandas
Âmbar
que abranda o meu caminhar
E pelas vidraças da bem-aventurança
cintila por ti
- Bálsamo e benção
o véu de constelação
que hoje cobre os olhos meus
quarta-feira, 2 de março de 2005
Mais do que um presente do meu mais do que amigo Júlio Castro:
"Um dia quero escrever uma poesia-você,
com brisas agradáveis de nuances-amor-vento,
de belos versos poeta-azul e poetisas vidas-cor-de-rosa.
Um poema sua vida,
de rimas longas e penúltimos estrofes fortes intermináveis.
Quero um dia escrever uma poesia de sua leve-eternidade.
Um poema inovador de verbos lindos e versos-And."
"Um dia quero escrever uma poesia-você,
com brisas agradáveis de nuances-amor-vento,
de belos versos poeta-azul e poetisas vidas-cor-de-rosa.
Um poema sua vida,
de rimas longas e penúltimos estrofes fortes intermináveis.
Quero um dia escrever uma poesia de sua leve-eternidade.
Um poema inovador de verbos lindos e versos-And."
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005
terça-feira, 22 de fevereiro de 2005
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005
“Que para falar de Marpessa
com a grandeza que lhe convém,
é preciso esperar que se criem as palavras.
Pois que não as tenho,
inda assim tentarei dizer:
Marpessa é a beleza e o perigo,
o riso e a instrospeção.
Marpessa é a crueza dos desígnios
e a leveza das declarações.
Marpessa é um ser-todo
Estar com Marpessa é perder-se de Amor.
E assim sendo,
e sendo tanto,
assim me encontro: quedada de Amor e Luz
aos pés de Marpessa."
com a grandeza que lhe convém,
é preciso esperar que se criem as palavras.
Pois que não as tenho,
inda assim tentarei dizer:
Marpessa é a beleza e o perigo,
o riso e a instrospeção.
Marpessa é a crueza dos desígnios
e a leveza das declarações.
Marpessa é um ser-todo
Estar com Marpessa é perder-se de Amor.
E assim sendo,
e sendo tanto,
assim me encontro: quedada de Amor e Luz
aos pés de Marpessa."
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005
domingo, 6 de fevereiro de 2005
"Hoje
caminhei pelas ruas sob o sol
em saias longas
mas a alegria não me veio
Despertei pra tua ausência
e a história
que a tua falta me conta
fala de cores e calores
cheiros, toques e sabores
fora do alcance
da avidez pálida de minhas mãos.
Sigo sob o sol
e enquanto tua falta me consome
teu corpo roça o meu pensar"
caminhei pelas ruas sob o sol
em saias longas
mas a alegria não me veio
Despertei pra tua ausência
e a história
que a tua falta me conta
fala de cores e calores
cheiros, toques e sabores
fora do alcance
da avidez pálida de minhas mãos.
Sigo sob o sol
e enquanto tua falta me consome
teu corpo roça o meu pensar"
terça-feira, 1 de fevereiro de 2005
segunda-feira, 31 de janeiro de 2005
ALCÂNDOR *
“Brancas, as águas agitam as angras
Não há portos, só navios... meu coração
E o meu coração emerge nas vagas
- e sangra
de desprazimento, enquanto digo-te como um ato de contrição
Há brumas em meu mar que-seria
e nas areias em que não piso... e o sol... jamais
E a tua imagem, em mim, é uma galeria
de paredes vazias, de sombras e visões irreais
Há um quê de lúbrico nesta melúria
inconstante, em sua veleidade descontente
Tua face, vulto fulgidio que incita a minha fúria
Perdida, num querer-te afanoso e ausente
Minha vida, ocaso tenebroso... melodia
muda, sem notas nem arranjo
No paraíso esquecido de meus dias
nunca houve, sequer, nem um anjo
E o meu coração é um camafeu
com as chagas talhadas no lado mais precioso
Anátema comiserado de um deus
caprichoso, lasso e fastioso
Quiçá seja esta dor a única maneira
de decantar e abrandar meu apanágio
Ao pé da torre há ainda uma sementeira e
vez ou outra, hão de tocar os sinos no campanário”
* 1.º lugar da Grande São Paulo - Mapa Cultural Paulista 2001/2002
“Brancas, as águas agitam as angras
Não há portos, só navios... meu coração
E o meu coração emerge nas vagas
- e sangra
de desprazimento, enquanto digo-te como um ato de contrição
Há brumas em meu mar que-seria
e nas areias em que não piso... e o sol... jamais
E a tua imagem, em mim, é uma galeria
de paredes vazias, de sombras e visões irreais
Há um quê de lúbrico nesta melúria
inconstante, em sua veleidade descontente
Tua face, vulto fulgidio que incita a minha fúria
Perdida, num querer-te afanoso e ausente
Minha vida, ocaso tenebroso... melodia
muda, sem notas nem arranjo
No paraíso esquecido de meus dias
nunca houve, sequer, nem um anjo
E o meu coração é um camafeu
com as chagas talhadas no lado mais precioso
Anátema comiserado de um deus
caprichoso, lasso e fastioso
Quiçá seja esta dor a única maneira
de decantar e abrandar meu apanágio
Ao pé da torre há ainda uma sementeira e
vez ou outra, hão de tocar os sinos no campanário”
* 1.º lugar da Grande São Paulo - Mapa Cultural Paulista 2001/2002
quinta-feira, 27 de janeiro de 2005
Sei que pode parecer um pouco de vaidade, mas não poderia me abster de pôr meu presente no ar.
Depois de passar toda a vida desejando um irmão, não sou mais filha única.
"And: eu te amo, guria!!!
De amor de irmão de traquinagens
amor de brincar de pintar de tarde
em sulfites com giz de cera.
Te amo de cores rosas, amarelas
e outras belas
Te amo de azul misturado com vermelho e laranja
de gargalhar deitado no chão,
e pés no sofá, pro ar
depois da casa bagunçada,
(ê criançada levada!)
rindo dos vagalumes que brotam da lâmpada
e se escondem nos livros da estante!!
Te amo de olhar o teto
por horas em silêncio.
E depois arrumar tudo rapidinho
Porque logo a mãe vai chegar.
Ei!
Ali pode limpar:
Foi você quem rabiscou a parede!!!"
De Júlio Castro
Depois de passar toda a vida desejando um irmão, não sou mais filha única.
"And: eu te amo, guria!!!
De amor de irmão de traquinagens
amor de brincar de pintar de tarde
em sulfites com giz de cera.
Te amo de cores rosas, amarelas
e outras belas
Te amo de azul misturado com vermelho e laranja
de gargalhar deitado no chão,
e pés no sofá, pro ar
depois da casa bagunçada,
(ê criançada levada!)
rindo dos vagalumes que brotam da lâmpada
e se escondem nos livros da estante!!
Te amo de olhar o teto
por horas em silêncio.
E depois arrumar tudo rapidinho
Porque logo a mãe vai chegar.
Ei!
Ali pode limpar:
Foi você quem rabiscou a parede!!!"
De Júlio Castro
quarta-feira, 26 de janeiro de 2005
"Quem sabe a que escuridão de amor
pode chegar o carinho."
(Clarice Lispector)
Em que sonho eu te encontrei?
Em que sonho?
Em que ar?
Em que noite?
Em que curva roubaste o meu pensar?
Em que curva?
Em que pausa?
Em que penar?
Com que olhos hei de te tocar?
Com que olhos?
Com que palavras?
A que custar?
terça-feira, 18 de janeiro de 2005
Este poema é de meu grande e amado amigo Júlio Castro.
Devo dizer que, além de uma pessoa espetacular, o moço escreve muito, muito bem, como se pode ver:
TARDE MORNA DE AZUL
Ande hoje na ponta dos pés,
feche seus olhos,
segure em meu ombro
e me deixe lhe dar um sonho.
Ande hoje na ponta dos pés
e me dê sorrisos em câmera lenta.
Traga seu sopro refrescante,
seu cheiro morno de maresia,
seu beijo quente de nostalgia
e me faça esquecer de morrer.
Depois
posso flutuar com você?
Júlio Castro
Devo dizer que, além de uma pessoa espetacular, o moço escreve muito, muito bem, como se pode ver:
TARDE MORNA DE AZUL
Ande hoje na ponta dos pés,
feche seus olhos,
segure em meu ombro
e me deixe lhe dar um sonho.
Ande hoje na ponta dos pés
e me dê sorrisos em câmera lenta.
Traga seu sopro refrescante,
seu cheiro morno de maresia,
seu beijo quente de nostalgia
e me faça esquecer de morrer.
Depois
posso flutuar com você?
Júlio Castro
segunda-feira, 17 de janeiro de 2005
sexta-feira, 14 de janeiro de 2005
quinta-feira, 13 de janeiro de 2005
quarta-feira, 12 de janeiro de 2005
Digo
mas digo-o com cuidado
para não ferir a solidão do ar
nem perturbar a alva placidez
dos lençóis brancos pendurados no varal
Ouça-me,
e se possível,
com a ponta dos dedos
pois que este
é o meu cortejo
enlevado em silêncios breves
Me dôo aqui
Como quem comunga em rito
Me dou
Que escrever é a minha vertigem
mas digo-o com cuidado
para não ferir a solidão do ar
nem perturbar a alva placidez
dos lençóis brancos pendurados no varal
Ouça-me,
e se possível,
com a ponta dos dedos
pois que este
é o meu cortejo
enlevado em silêncios breves
Me dôo aqui
Como quem comunga em rito
Me dou
Que escrever é a minha vertigem
sábado, 8 de janeiro de 2005
POEMA PARA A QUARTA CORDA
Quisera eu
escrever um poema novo
poema de bailar de asas
de nuvem se esvaecendo
sobre o céu azul
Quisera eu
que meu poema fosse
sonho envolto em gaze
espuma que se espaça
fumaça
Queria antes um poema
com todas as nuances azuis de Bach
- as nuances celestiais da singeleza
a singeleza que dignifica
enobrece e traz sublime calma
à fatigada alma dos homens
Quisera eu
escrever um poema novo
poema de bailar de asas
de nuvem se esvaecendo
sobre o céu azul
Quisera eu
que meu poema fosse
sonho envolto em gaze
espuma que se espaça
fumaça
Queria antes um poema
com todas as nuances azuis de Bach
- as nuances celestiais da singeleza
a singeleza que dignifica
enobrece e traz sublime calma
à fatigada alma dos homens
terça-feira, 4 de janeiro de 2005
O MENSAGEIRO DOS VENTOS
Este tempo que se instala em mim
traz consigo o azul e suas tempestades
é vertigem
e a leveza dos pincéis
que se insinuam em mim com suas cores
quadros e esquadros espasmos
em telas etéreas
su(pra)reais
e a força
que circunda este tempo
é olor balsâmico
força de vento e chuva
broto de flor germinado
mas ‘inda renhido em terra
é a dádiva
e o terror
e de não sabê-lo
teço, coso e amanheço
em palavras, telas, sementes
ósculos nos olhos do pescador
Mas o quanto não o sabes
e jamais o saberás.
Este tempo que se instala em mim
traz consigo o azul e suas tempestades
é vertigem
e a leveza dos pincéis
que se insinuam em mim com suas cores
quadros e esquadros espasmos
em telas etéreas
su(pra)reais
e a força
que circunda este tempo
é olor balsâmico
força de vento e chuva
broto de flor germinado
mas ‘inda renhido em terra
é a dádiva
e o terror
e de não sabê-lo
teço, coso e amanheço
em palavras, telas, sementes
ósculos nos olhos do pescador
Mas o quanto não o sabes
e jamais o saberás.
OFERENDA
Vou pegar todas as minhas coisinhas:
meus lápis de cor de 36 cores,
minhas lantejoulas de estrelinhas – as mais coloridas – de brincar carnaval,
meus recortes de bolinhas e sinos de Natal.
Vou pegar também minha vaca de pelúcia,
minhas palavras de estimação (sem exceção),
minhas bolhas de sabão...
Vou juntar tudo e fazer um pacote com o papel mais colorido e transparente e brilhante e depois que estiver tudo embrulhadinho,
todas essas coisas de que gosto,
posso dá-las todas a você?
Vou pegar todas as minhas coisinhas:
meus lápis de cor de 36 cores,
minhas lantejoulas de estrelinhas – as mais coloridas – de brincar carnaval,
meus recortes de bolinhas e sinos de Natal.
Vou pegar também minha vaca de pelúcia,
minhas palavras de estimação (sem exceção),
minhas bolhas de sabão...
Vou juntar tudo e fazer um pacote com o papel mais colorido e transparente e brilhante e depois que estiver tudo embrulhadinho,
todas essas coisas de que gosto,
posso dá-las todas a você?
domingo, 2 de janeiro de 2005
EXPOSIÇÃO
A poesia foi colocada
no meio do passeio público.
Quem deixou?
A poesia e suas palavras.
A poesia e as cores do filho da poesia.
E ainda por cima
sentaram uma poetisa
no meio da calçada.
No meio da vida.
No meio do trabalho.
Pior,
no meio do descanso.
Quem descansa
com palavras incômodas bem no meio do passeio público?
No meio do sábado?
A poesia e o seu mal-estar.
A poesia com aquelas lentes azuis...
Só mesmo a poesia
- essa desocupada-
para achar que as pessoas
têm tempo para poesia.
A poesia e sua barganha com o tempo.
A poesia se pintando para a vida...
Justo a poesia, que nem sindicato tem,
acha que pode ir por aí se dizendo
só por ser poesia.
E o menino pergunta:
- Pai, isso é arte?
E o pai nem responde.
E o pai nem volta os olhos.
No máximo, resmungará lá na frente
algum monossílabo (mais que suficiente).
A poesia e seu desperdício de palavras.
A poesia e seus exageros.
Tanto trabalho para se evitar a poesia caminho afora,
tanto custo para esquecer a poesia,
e agora a poesia surge
feito susto;
e agora
há de se desviar da poesia.
Agora, se não cuidar
é capaz de se tropeçar numa poetisa.
Quem a colocou lá?
Bem no meio do sábado?
Bem no meio do passeio público?
E pra ajudar
e pra completar o quadro infame
ainda chega o poeta.
Quem deixou, meu deus, essa gente solta na rua?
A poesia, o poeta e a poetisa.
Não tendo amolado o bastante,
eles ainda querem se olhar nos olhos.
Não fosse o incômodo suficiente
eles ainda querem falar da vida.
Já não bastasse o tudo mais
eles ainda ousam se amar:
se amar bem no meio do sábado,
se amar bem no meio do passeio público.
A poesia e essa mania de Amor.
A poesia e sua queda pelo patético.
Então o louco chega em meio à cena.
O louco e sua graduação alcoólica.
O louco e sua poesia doidivanas.
Pergunta se a poetisa
está esquentando a sombra.
E a poesia se sente entendida.
A poesia, enfim, se realiza.
A poesia
- já não era sem tempo-
para descanso do mundo
já pode se recolher.
A poesia foi colocada
no meio do passeio público.
Quem deixou?
A poesia e suas palavras.
A poesia e as cores do filho da poesia.
E ainda por cima
sentaram uma poetisa
no meio da calçada.
No meio da vida.
No meio do trabalho.
Pior,
no meio do descanso.
Quem descansa
com palavras incômodas bem no meio do passeio público?
No meio do sábado?
A poesia e o seu mal-estar.
A poesia com aquelas lentes azuis...
Só mesmo a poesia
- essa desocupada-
para achar que as pessoas
têm tempo para poesia.
A poesia e sua barganha com o tempo.
A poesia se pintando para a vida...
Justo a poesia, que nem sindicato tem,
acha que pode ir por aí se dizendo
só por ser poesia.
E o menino pergunta:
- Pai, isso é arte?
E o pai nem responde.
E o pai nem volta os olhos.
No máximo, resmungará lá na frente
algum monossílabo (mais que suficiente).
A poesia e seu desperdício de palavras.
A poesia e seus exageros.
Tanto trabalho para se evitar a poesia caminho afora,
tanto custo para esquecer a poesia,
e agora a poesia surge
feito susto;
e agora
há de se desviar da poesia.
Agora, se não cuidar
é capaz de se tropeçar numa poetisa.
Quem a colocou lá?
Bem no meio do sábado?
Bem no meio do passeio público?
E pra ajudar
e pra completar o quadro infame
ainda chega o poeta.
Quem deixou, meu deus, essa gente solta na rua?
A poesia, o poeta e a poetisa.
Não tendo amolado o bastante,
eles ainda querem se olhar nos olhos.
Não fosse o incômodo suficiente
eles ainda querem falar da vida.
Já não bastasse o tudo mais
eles ainda ousam se amar:
se amar bem no meio do sábado,
se amar bem no meio do passeio público.
A poesia e essa mania de Amor.
A poesia e sua queda pelo patético.
Então o louco chega em meio à cena.
O louco e sua graduação alcoólica.
O louco e sua poesia doidivanas.
Pergunta se a poetisa
está esquentando a sombra.
E a poesia se sente entendida.
A poesia, enfim, se realiza.
A poesia
- já não era sem tempo-
para descanso do mundo
já pode se recolher.
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